Comentado por: Profa Dra Fabiana Caetano Dutra – Dra. em Ciências da Reabilitação, Professora do Instituto de Ciências da Saúde da UFTM e Membro do Comitê de Dor/CABSIN e Profa Dra Célia Maria de Oliveira – Dra. em Ciências da Saúde, Professora da Escola de Enfermagem da UFMG e Coordenadora do Comitê de Dor/CABSIN

O artigo apresenta o resumo e a avaliação das evidências existentes sobre a eficácia e segurança da aplicação da acupuntura no alívio da depressão relacionada à dor crônica (CPRD). Foram avaliadas evidências, por meio de ensaios clínicos randomizados, em sete bases de dados e publicadas até o mês de setembro de 2020. Este artigo foi publicado na Pain Research & Management, uma revista interdisciplinar da área da saúde que abrange pesquisas internacionais com foco em resultados laboratoriais e clínicos no campo da pesquisa da dor e na prevenção e tratamento da dor.

Acesso ao Artigo: Jianyu You, Haiyan Li, Dingyi Xie, Rixin Chen e Mingren Chen. Pain Research and Management, volume 2021, article ID 6617075, https://doi.org/10.1155/2021/6617075

OBJETIVO

O objetivo deste estudo foi avaliar a evidência existente sobre a eficácia e a segurança da acupuntura no alívio da depressão relacionada à dor crônica (CPRD)

MÉTODO

Esta pesquisa foi uma revisão sistemática com meta-análise, registrada no PROSPERO e que seguiu as diretrizes da PRISMA para seu desenvolvimento. A revisão foi realizada com pesquisas do tipo ensaio clínico randomizado, que avaliaram a eficácia da acupuntura para CPRD, e que estavam disponíveis nos bancos de dados Embase, PubMed, Cochrane Library, WanFang, CNKI, VIP e SinoMed, disponíveis até setembro de 2020. Os pesquisadores usaram como palavras-chave: dor crônica, depressão e acupuntura; e incluíram apenas estudos do tipo ensaio clínico randomizado, que testaram terapia de acupuntura, manual ou eletroacupuntura isolada, ou estas modalidades combinadas com medicamentos para CPRD. O grupo de comparação (controle) englobou terapia medicamentosa convencional, sem restrições, incluindo a medicina ocidental e a fitoterapia chinesa. Como medidas de resultado, Escala de Depressão de Hamilton (HAMD) e a Escala Visual Analógica (VAS) foram consideradas os desfechos primários; enquanto que os eventos adversos foram o desfecho secundário.

Os artigos deveriam ter o texto completo disponível e serem publicados em inglês ou chinês. A extração de dados incluiu informações como: primeiro autor, ano de publicação, tamanho da amostra, características básicas dos participantes, intervenção, resultados principais (medidos no final do tratamento) e eventos adversos. A qualidade dos artigos e o risco de viés foram avaliados de forma independente por dois autores utilizando a ferramenta de avaliação de risco de viés da Cochrane (ROB) e a análise estatística foi realizada por meio do software Reviewer Manager.

RESULTADOS

Um total de oito ensaios clínicos randomizados foram incluídos e analisados na revisão sistemática, sendo 636 participantes avaliados: 316 no grupo que receberam a terapia de acupuntura e 320 no grupo controle. Todos os estudos foram realizados na China, com a amostra variando de 40 a 128 participantes. Três estudos compararam a acupuntura única com medicamentos. E cinco estudos compararam acupuntura combinada com medicamentos com tratamento apenas medicamentoso. Um estudo usou eletroacupuntura e os outros sete estudos usaram acupuntura manual.

Em relação à qualidade, a maioria dos estudos apresentou baixo risco de viés para os critérios de randomização (cinco estudos) e de perda de dados (oito estudos), indicando boa qualidade. O cegamento na alocação dos grupos e na avaliação dos resultados foi avaliada como de baixa qualidade em todos os estudos, isto é, os estudos analisados apresentaram alto risco de viés nestes dois critérios. Outro critério que também indica baixa qualidade dos estudos é o não registro ou a não publicação dos protocolos dos ensaios clínicos analisados.

Quanto à avaliação da depressão, os grupos que receberam acupuntura mostraram melhora significativamente maior em comparação com os grupos de controle. A análise de subgrupo (acupuntura isolada ou acupuntura combinada com medicamento) mostrou que acupuntura combinada com medicamentos é significativamente melhor do que os medicamentos isolados para reduzir depressão. No entanto, apenas a acupuntura isolada não foi estatisticamente superior aos medicamentos isolados. A maioria dos estudos relatou a ocorrência de eventos adversos, sendo que o tratamento de acupuntura isolada apresentou uma menor incidência de eventos adversos em comparação com medicamentos.

CONCLUSÕES

Depressão e dor crônica são sintomas psicológicos e físicos comuns nos serviços de saúde e,  frequentemente, coexistem. No presente estudo, os resultados indicaram que acupuntura combinada com terapia medicamentosa foi mais eficazes para reduzir a depressão relacionada à dor crônica do que os medicamentos orais isolados. Estes dados mostram que a acupuntura é um tratamento eficaz e seguro para depressão relacionada à dor crônica, e a acupuntura combinada com a terapia medicamentosa é mais eficaz do que a terapia com um único medicamento. Apesar destes resultados promissores, é importante que mais estudos, com maior qualidade metodológica e amostras maiores, sejam desenvolvidos para confirmar o papel da acupuntura no tratamento da depressão relacionada à dor crônica.