Pesquisador emérito da Fiocruz foi um grande incentivador de estudos sobre fitoterapia

O Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) expressa profundo pesar pelo falecimento do professor Benjamin Gilbert, ocorrido em 9 de fevereiro de 2024, aos 94 anos. Sua partida marca o fim de uma era de contribuições inestimáveis à ciência brasileira, especialmente no campo das plantas medicinais. Nascido em Felixstowe, Inglaterra, em 1929, Gilbert formou-se em química pela Universidade de Bristol em 1950 e concluiu seu doutorado em química orgânica em 1954. Sua jornada acadêmica e profissional foi marcada por uma paixão incansável pela pesquisa em produtos naturais, que o levou a se mudar para os Estados Unidos e, posteriormente, ao Brasil, onde deixou um legado inspirador.

No Brasil, prof. Gilbert colaborou na fundação do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), instituição na qual foi professor-visitante até 1972. A pedido do CNPq, nos anos 1960 e 1970, Gilbert trabalhou na área de doenças endêmicas, em uma parceria da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) com a Fiocruz Minas. Sua atuação com caramujos e outras pesquisas lhe conferiu reconhecimento internacional, tornando-o conselheiro da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desde 1986, Gilbert esteve vinculado à Fiocruz, dedicando-se à química de produtos naturais e à implantação da fitoterapia no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2020, ele recebeu o título de pesquisador emérito da Fundação em reconhecimento às contribuições dele à ciência, em especial no campo das plantas medicinais. Também destaca-se sua participação em comitês da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização para o Desenvolvimento da Química, além de sócio da Real Sociedade de Química da Inglaterra, da Sociedade Americana de Química, da Associação Brasileira de Química e da Sociedade Brasileira de Química, funções que demonstram seu profundo compromisso com a valorização do conhecimento tradicional e a promoção da saúde pública.

Para o CABSIN, a perda do professor Gilbert é muito significativa pela relação de parceria para aprofundar as pesquisas sobre produtos naturais no Brasil e nas Américas. Gilbert foi propositor do resgate histórico do uso de 621 plantas medicinais nativas prescritas pelos médicos brasileiros antes da era do antibiótico, reunidas em 5 tratados entre 1646 e 1920. Baseado em suas orientações, estamos seguindo seu maior projeto científico ao final de sua vida: a “Validação farmacológica do uso de plantas medicinais no Brasil do século XVII ao século XX”, que o CABSIN está trabalhando em parceria com a Farmanguinhos/Fiocruz. Este projeto busca documentar as evidências farmacológicas e toxicológicas relacionadas às espécies vegetais catalogadas para uso médico no período e resgatar a tradicionalidade do uso de plantas medicinais no Brasil. A iniciativa destacou a importância de desenvolver novos fitoterápicos baseados em um sólido conhecimento histórico e científico.

Gilbert era casado com a engenheira química Maria Elisa Alentejano, com quem teve dois filhos: William Richard Gilbert e Peter Alentejano Gilbert. Como pesquisador, deixa como legado uma vasta produção acadêmica, com mais de 120 publicações científicas, e um exemplo de dedicação à pesquisa e à educação. Seu trabalho pioneiro na área de fitoterapia contribuiu significativamente para o fortalecimento das Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas (MTCI) e para o avanço das pesquisas no campo das plantas medicinais e fitoterapia no Brasil. A trajetória de Benjamin Gilbert é um testemunho do poder da ciência em transformar vidas e sistemas de saúde. Sua vida dedicada ao avanço da química, da fitoquímica e da ciência, pela defesa da produção pública de medicamentos e pela luta incansável pela fitoterapia desenvolvida com rigor, permanecerá como inspiração para gerações futuras de cientistas e pesquisadores.

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Anderson Machado

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