Protocolo já testado cientificamente pelo governo indiano foi apresentado ao Hospital Cruz Verde em São Paulo
No olhar profundo de Dudu, a expressão genuína de gratidão aos visitantes, materializado nas páginas do livro em que ele, um paciente com paralisia cerebral, conta sua trajetória de mais de 29 anos vivendo ali no hospital Cruz Verde. Esse gesto emocionou a equipe técnica que visitou a instituição que há mais de seis décadas é referência mundial no atendimento exclusivo de pacientes com paralisia cerebral como ele. O hospital, que atende gratuitamente pelo SUS, foi escolhido para a apresentação de uma proposta de protocolo de pesquisa voltada para esses pacientes, com o uso de terapias da medicina ayurvédica para crianças.
Este projeto é uma iniciativa conjunta do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) e do All India Institute of Ayurveda (AIIA) do Ministério da Saúde indiano AYUSH, como uma das ações prioritárias fruto da cooperação tripartite assinada em abril de 2022, envolvendo a UFRJ. Foi na ocasião da assinatura que o governo indiano lançou o Centro Colaborador Global da OMS. Naquela ocasião, o Dr. Tedros Adhanom, Diretor-geral da OMS, relatou uma visita ao Departamento de Pediatria do AIIA para conhecer de perto a experiência de cuidado das crianças com paralisia cerebral no hospital do Ministério AYUSH em New Delhi, destacando como uma iniciativa exitosa. É a partir dessa experiência que o projeto nasce como desdobramento em terras brasileiras.
Além do CABSIN, a delegação contou com a participação da chefia do Departamento de Pediatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).
Na abertura, o consultor da área de Sistemas e Serviços em Saúde e ponto focal das Medicinas Tradicionais, Complementares e Integrativas da Organização Panamericana de Saúde (OPAS), Dr. Rafael Dall’Alba, ressaltou a importância da capacitação técnica como parte do programa de incorporação de novas tecnologias inovadoras no SUS que possuam evidência científica.
O evento teve ainda apresentação dos fundamentos do Ayurveda pelo coordenador do Comitê de Ayurveda do CABSIN, Dr. José Ruguê Ribeiro Junior. A proposta do projeto de pesquisa foi apresentada pela Dra. Ananda Ruguê, integrante do Comitê de Pediatria Integrativa. A pesquisa prevê a administração de práticas de Ayurveda para crianças com paralisia cerebral atendidas no hospital.
A proposta é avaliar os resultados da administração de fitoterápicos orais, práticas corporais como massagens com fitoterápicos (Udwartana e Pinda Sweda), óleos (Abhyanga e Yoga Bastis), e hipertermia (Nadhi ou Bashpa Swedana), sobre a evolução clínica dos pacientes com paralisia cerebral. Essa metodologia segue protocolos já testados na Índia com bons resultados na redução da espasticidade, na melhora da qualidade de vida e no desempenho cognitivo. Segundo a Dra. Ananda, esse protocolo pode melhorar esses parâmetros na população brasileira: “São técnicas que ajudam na melhoria do sono, com possibilidade de redução de medicamentos. Também aumenta a imunidade, resultando em menos infecções recorrentes e no menor uso de antibióticos. Mas o mais importante é perceber que o toque durante as terapias externas ajudam na melhoria de autopercepção dessas crianças, influenciando positivamente também na qualidade do movimento, algo muito intenso para eles, diminuindo as contraturas e retrações e intensificando a melhora na qualidade na relação com as outras pessoas à volta”, destaca Ananda.
Para o presidente do CABSIN, Prof. Dr. Ricardo Ghelman, que também coordena o Comitê de Pediatria Integrativa do Consórcio, esse é um projeto de grande relevância por conectar dois serviços de excelência no tratamento a pacientes com paralisia cerebral e ofertar práticas baseadas em evidências científicas: “Com essa parceria, trocamos experiências e ampliamos as pesquisas que ajudem a qualificar os dados científicos sobre as práticas em saúde integrativa. Quem ganha são pacientes que precisam de recursos mais adequados para proporcionar bem-estar e melhorias no quadro clínico”, enfatiza Dr. Ghelman.
Os próximos passos serão a redação final do projeto de pesquisa para submissão ao Comitê de Ética, assim como a elaboração do programa de capacitação em técnicas da Ayurveda como Panchakarma,), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo.
Texto: Anderson Machado – [email protected]
Fotos: Arquivo pessoal (integrantes da visita).


