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Conceito Comitê de Naturopatia

Conceito De Naturopatia/Naturologia

Conhecida internacionalmente como “Medicina Naturopática” existe há séculos, a maioria dos seus princípios tiveram origem na Alemanha e na Europa nos séculos XVI e XVII. Os primeiros naturopatas iniciaram seus trabalhos antes de 1900, eles foram treinados por médicos europeus usando técnicas como hidroterapia, medicina herbal e outras formas tradicionais de cura. Atualmente, os países europeus consideram a naturopatia como um sistema de saúde que evoluiu ao incorporar a medicina tradicional de cada país com os princípios, teorias, modalidades e tradições. Estas abordagens foram reunidas e organizadas principalmente na América do Norte, sendo, portanto, considerada o berço da naturopatia moderna. Embora a naturopatia descrita como sistema médico complexo seja o principal foco deste texto, as formas tradicionais de ensino e prática ainda são comuns nos países (1). No Brasil o bacharelado na área surgiu em 1998, é conhecido como “Naturologia”, sendo um sinônimo do termo Naturopatia. Atualmente, existem quatorze cursos superiores de Naturologia no Brasil autorizados pelo Minstério da Educação.

A definição técnica mais atual utilizada no Brasil para denominar o sistema Naturologia ou Naturopatia é:

(…) um conhecimento da área da saúde embasado na pluralidade de sistemas terapêuticos complexos vitalistas, que parte de uma visão multidimensional do processo de saúde-doença e utiliza da relação de interagência e de práticas integrativas e complementares no cuidado e atenção à saúde.(5)

Como a medicina ocidental contemporânea, também conhecida como medicina biomédica, a naturopatia é um sistema complexo cujas bases filosóficas adotam princípios e fundamentos hipocráticos. Hipócrates foi um dos primeiros no ocidente a falar sobre o “poder de cura da natureza”, fundamento base de todo o pensamento vitalista que embasa a naturopatia como sistema terapêutico.

Como todo sistema de medicina, a naturopatia foi se desenvolvendo e evoluindo com o tempo, suas bases conceituais foram avançando e novos elementos foram sendo incorporados. De fato, todas as grandes racionalidades possuem alguns pilares fundamentais, no entanto, estes pilares não representam todas as possibilidades de teoria e a prática do sistema, mas são guias que sustentam uma determinada cosmovisão a partir da qual o sistema evolui.

Apesar da Naturopatia possuir características únicas em cada país em que ela se estabelece como sistema terapêutico, há um consenso global sobre os princípios de base deste conhecimento.
Segundo a World Naturopathic Federation (2017)(1), os princípios orientadores da prática naturopática incluem 7 princípios:

  1. Poder de Cura da Natureza (vis medicatrix naturae): visa fortalecer o poder de restabelecimento da saúde presente em cada indivíduo e organismo, remete a filosofia do vitalismo;
  2. Tratar a pessoa de forma integral (tolle totum): por meio de um tratamento individualizado, considerando fatores físicos, mentais, emocionais, espirituais, genéticos, ambientais, histórico-culturais e sociais, dentre outros, que contribuem para o processo vida-saúde-doença (elementos da abordagem holística);
  3. Tratar as Causas (tolle causam): ao invés de simplesmente suprimir os sintomas;
  4. Primeiro, não fazer mal (primum non nocere): por meio do uso de métodos e substâncias que minimizem o risco de efeitos secundários prejudiciais, bem como do uso da menor força necessária para avaliar e tratar;
  5. O naturopata como mestre (docere): compartilhando conhecimentos com os indivíduos sobre um estilo, modo e condição de vida saudáveis e fazendo com que tenham autonomia e responsabilidade sob sua própria saúde, além de motivar para o autoconhecimento, autorreflexão e autocuidado;
  6. Promoção da saúde e prevenção de agravos e doenças: atuando como agente promotor de mudança de estilo, modo e condição de vida;
  7. Proporcionar Bem-estar: independente da condição do indivíduo, proporcionar bem-estar por meio da abordagem do profissional e suas técnicas terapêuticas.

A formação naturopática/naturológica não é configurada como um pout-pourri de Práticas Integrativas e Complementares. Para não correr o risco de se tornar uma alopatia natural ou resumir a prática a aplicação de protocolos, a formação extensa do naturopata/naturólogo deve focar em princípios, teorias, filosofias e práticas específicas do saber naturopático/naturológico. Dentro desse arcabouço, cabe destacar a relação de interagência como conhecimento teórico específico para a prática exclusiva deste profissional. 

É verificável pela estrutura de conteúdos que o sistema terapêutico da Naturopatia contemporânea busca atuar de forma integrativa(4), ou seja, estabelecer as contribuições e limites da abordagem biomédica, sendo um elemento fundamental da formação de um naturólogo ou “naturopathic doctor”.

OBJETIVOS DO COMITÊ

  1. O Comitê Temático de Naturologia está constituído como um grupo de trabalho do Consórcio Acadêmico Brasileiro de Saúde Integrativa (CABSIN) que tem como principais objetivos:

    • Contribuir para ampliar o acesso a informações sobre pesquisas em naturologia/naturopatia qualificadas. 
    • Apoiar iniciativas que tenham como perspectiva o incremento das investigações em naturologia/naturopatia no Brasil, com ênfase naquelas que contribuam para o fortalecimento da naturologia/naturopatia no SUS, em consonância com as diretrizes da Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC).
    • Promover articulação entre os profissionais e pesquisadores interessados em investigações científicas em naturologia/naturopatia.
    • Apoiar ações que contribuam para a formação de profissionais da naturologia em metodologias de investigação científica. 
    • Apoiar e fomentar a realização de pesquisa científica no campo da naturologia/naturopatia. 

NATUROLOGIA E CIÊNCIA

  1. Herman et.al (2008)(13), procurou determinar o custo-efetividade dos cuidados naturopáticos (acupuntura, exercícios de relaxamento, recomendações alimentares e um guia de cuidados com a coluna) em comparação com a educação fisioterapêutica padronizada, o estudo demonstrou que os cuidados naturopáticos são mais econômicos do que um regime de educação em fisioterapia padronizada no tratamento de dores lombares crônicas com eficácia semelhante.

    Atualmente existem evidências sobre o uso da abordagem naturopática para diversos desfechos clínicos como, por exemplo, saúde mental(14,15) e doenças crônicas em geral (16,17).

    Um estudo de revisão sistemática amplo (18) incluindo 33 pesquisas com mais de 9800 pessoas na amostragem, conclui que a medicina naturopática multimodal, ou seja, com intervenções complexas, demonstra eficácia no tratamento de doenças cardiovasculares, dores musculoesqueléticas, diabetes tipo 2, síndrome do ovário policístico, depressão, ansiedade e outras condições crônicas.

    Muitas destas pesquisas são financiadas e apoiadas por universidades e centros de formação e pesquisa na área, a maioria deles concentrado nos EUA, Índia e Canadá.

    Segundo a WNF, mundialmente existem 23 centros de pesquisa em naturopatia e 21 periódicos indexados dedicados diretamente ao tema, sendo um deles brasileiro.

    No Brasil a Sociedade Brasileira de Naturologia – SBNAT, é o órgão de representação científica da profissão e responsável por cuidar da revista científica indexada: Cadernos de Naturologia e Terapias Complementares, e dos congressos científicos anuais. Até o ano de 2024 foram realizados 16 congressos nacionais e internacionais no país sobre o tema.

Referências

    1. World Naturopathic Federation. WNF White Paper: Naturopathic Philosophies, Principles and Theories. (2017).
    2. World Health Organisation. Benchmarks for Training in Naturopathy. Chem. … 33 (2010).
    3. Sabbag, S. H. F. et al. Origem e desenvolvimento da Naturologia no Brasil: aspectos conceituais, históricos e políticos. Cad. Naturologia e Ter. Complement. 6, 59 (2017).
    4. Baars, E. W. & Hamre, H. J. Whole Medical Systems versus the System of Conventional Biomedicine: A Critical, Narrative Review of Similarities, Differences, and Factors That Promote the Integration Process. Evidence-Based Complement. Altern. Med. 2017, 1–13 (2017).
    5. Sabbag, S. H. F. et al. a Naturologia No Brasil: Avanços E Desafios. Cad. Naturologia e Ter. Complement. 2, 11 (2013).
    6. Schlechta Portella, C. F. Naturologia, Transdisciplinaridade e Transracionalidade. Cad. Naturologia e Ter. Complement. 2, 57 (2013).
    7. de Luna Antonio, R. Princípios centrais da relação de interagência: uma contribuição para a clínica naturológica. Cad. Naturologia e Ter. Complement. 6, 81–91 (2017).
    8. Rodrigues, D. M. de O. et al. Afinal, Naturologia e Naturopatia são coisas distintas ou similares? Cad. Naturologia e Ter. Complement. 6, 9 (2017).
    9. Silva, A. E. M. da. Naturologia: prática médica, saberes e complexidade. V Jornadas de Investigación en Antroposlogía Social (PUC, 2008).
    10. de Oliveira Rodrigues, D. M. Diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Naturologia. Cad. Naturologia e Ter. Complement. 6, 121–127 (2017).
    11. de Almeida Andrade, F. & Schlechta Portella, C. F. Research methods in complementary and alternative medicine: an integrative review. J. Integr. Med. 16, 6–13 (2018).
    12. Paley, J. & Eva, G. Complexity theory as an approach to explanation in healthcare: A critical discussion. Int. J. Nurs. Stud. 48, 269–279 (2011).
    13. Herman, P. M., Szczurko, O., Cooley, K. & Seely, D. A naturopathic approach to the prevention of cardiovascular disease: cost-effectiveness analysis of a pragmatic multi-worksite randomized clinical trial. J. Occup. Environ. Med. 56, 171 (2014).
    14. Sarris, J. Herbal medicines in the treatment of psychiatric disorders: 10-year updated review. Phyther. Res. 32, 1147–1162 (2018).
    15. Firth, J. et al. Adjunctive nutrients in first-episode psychosis: A systematic review of efficacy, tolerability and neurobiological mechanisms. Early Interv. Psychiatry 12, 774–783 (2018).
    16. Ryan Bradley, E. B. O. Estimated Effects of Whole-system Naturopathic Medicine in Select Chronic Disease Conditions: A Systematic Review. Altern. Integr. Med. 04, (2015).
    17. Salmond, S. J. et al. Hep573 study: A randomised, double-blind, placebo controlled trial of silymarin alone and combined with antioxidants to improve liver function and quality of life in people with chronic hepatitis C. Aust. J. Herb. Naturop. Med. 31, 12 (2019).
    18. Myers, S. P. & Vigar, V. The state of the evidence for whole-system, multi-modality naturopathic medicine: a systematic scoping review. J. Altern. Complement. Med. 25, 141–168 (2019).
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