Comentado por: Adnaldo Paulo Cardoso, Terapeuta Ocupacional, Mestre em Ciências da Reabilitação, Especialista em Gerontologia, Membro do Comitê de Dor/CABSIN.

Artigo

Fitzpatrick, K et al.The Use of Music in the Chronic Pain Experience: An Investigation into the Use of Music and Music therapy by Patients and Staff at a Hospital Outpatient Pain Clinic.Music Medicine, 11(1): 6-22. DOI: http://dx.doi.org/10.47513/mmd.v11i1.639

O artigo apresenta avaliação do uso da música e da musicoterapia por pacientes e profissionais de uma clínica de dor em ambulatório de um hospital geral. Foram avaliados 107 pacientes e sete profissionais quanto a audição da música na dor crônica. Este artigo foi publicado na Music and Medicine em janeiro de 2019, uma revista interdisciplinar.

Objetivo

O objetivo deste estudo foi avaliar a utilização da música na experiência de dor crônica.

Método

A partir do estudo de Mitchell et al.(2007) foi elaborado um questionário (15 itens) contendo questões quantitativas e qualitativas para os pacientes participantes, referentes à audição de música na dor crônica. Foi realizada também uma entrevista com os profissionais do ambulatório, assim como os pacientes, sobre a importância da música e seus possíveis benefícios. Trata-se de um estudo de método misto, com utilização de dados qualitativos em um ensaio de controle randomizado.

A análise dos dados foi realizada por meio do SPSS Versão 22, sendo os dados qualitativos por meio de análise temática.

Resultados

Participaram da pesquisa um total de 107 pacientes adultos encaminhados à clínica de dor. Deste, a maioria eram mulheres (58,9%), a idade média de 53 anos (24 a 84 anos), casados (57,9%) e com ensino médio (65,5%).

Os resultados apresentados demonstram que os pacientes se beneficiam da música de diferentes formas:

  1. Para relaxamento (alívio da tensão, acalmar a mente e dormir),
  2. Resposta positiva à música (sentir-se bem, melhorar o humor, ligar o coração à alma) e
  3. Como estímulo para enfrentar as adversidades (distrair da dor, ajudar a lidar com emoções negativas e momentos difíceis).

Quanto à dor crônica, aqueles pacientes que consideraram a música importante, também a avaliaram como altamente importante para lidar com a dor física. Portanto, a importância pessoal que se dá a música parece influir nesse fator.

A dor interfere na qualidade de vida das pessoas, pois afeta os relacionamentos, as atividades quotidianas, o trabalho, a participação na comunidade e a interação social. È importante melhorar a qualidade de vida das pessoas com dor crônica, bem como proporcionar atividades prazerosas que proporcionem relaxamento, alívio da tensão e estímulo para lidar com as adversidades. A utilização da música pelos profissionais de saúde pode auxiliar os pacientes a desenvolverem ferramentas e estratégias para lidar melhor com a dor crônica.

A pesquisa com os profissionais do ambulatório foi realizada com sete participantes, sendo dois médicos, quatro enfermeiros e um administrador. Em uma escala que avalia a importância da música (máximo de 5 pontos), a média da equipe foi 4. Em outra escala (máximo 5 pontos) que avaliava não-benefício/benefício da música para os pacientes, a equipe teve média 5, ou seja, muito benefício. E cem por cento da equipe considerou positivamente o papel da musicoterapia no tratamento da dor crônica.

Conclusão

Os resultados sugerem que há potencial para a utilização da música em ambulatório de dor crônica; que a equipe de saúde avaliou a música como benéfica para os pacientes com dor crônica; e que houve interesse dos pacientes pesquisados em fazer uso da música como parte de seu tratamento.

Contudo, os resultados devem ser considerados com cautela e mais pesquisas são necessárias com amostra e duração maiores para fortalecer as justificativas de utilização da música na dor crônica. Outro aspecto importante seria compreender melhor os aspectos cognitivos envolvidos na seleção musical por parte dos pacientes e seu papel na estratégia de lidar melhor com a dor crônica.